terça-feira, 26 de setembro de 2017

GUERRAS DO ALECRIM E MANJERONA - Museu dos Biscainhos (BRAGA BARROCA 2017)

















Guerras do Alecrim e Manjerona é uma ópera joco-séria da autoria de António José da Silva (O Judeu), apresentada no Teatro do Bairro Alto em 1737. Trata-se de uma peça escrita em prosa, intercalando textos poéticos. As suas obras, em geral, rompem com os modelos clássicos, procurando inspirar-se no espírito e linguagem do povo, em que o canto e a música surgem como elementos essenciais do espetáculo.
Sendo assim, a intriga desta peça gira em torno de uma disputa estabelecida entre dois ranchos que têm como símbolos o Alecrim e a Manjerona. A ação principia em plena época carnavalesca, colocando em confronto os protagonistas dos dois ranchos. De um lado, D. Fuas, que pretende assegurar a mão de D. Nise; do outro lado, D. Gilvaz, que deseja conquistar o coração de D. Clóris. Para tal, os dois fidalgos pelintras contam com o engenho e a arte do gracioso Semicúpio (criado de D. Gilvaz) para levar a cabo os seus intentos. Contudo, as sobrinhas do velho avarento D. Lancerote estão prometidas, pelo menos uma delas, ao primo D. Tibúrcio, um morgado rústico que pelas maneiras e linguagem não colhe os favores das pretendentes. Entre encontros e desencontros amorosos, a peça vai-se desenrolando em palco, cheia de graça e humor, até terminar com um inesperado final feliz, cujas personagens Sevadilha (criada de D. Lancerote) e Semicúpio assumem um papel crucial na condução dos acontecimentos e desfecho das relações, já que também elas são movidas por interesses amorosos.  Numa época em que o teatro popular assume uma importância relevante no contexto da crítica social, o texto de António José da Silva pretende denunciar acima de tudo o namoro convencional tão comum praticado no seio das classes superiores (a nobreza e fidalguia decadente), assim como a medicina balofa, carregada de preciosismos latinos e linguagem oca, para além dos vícios e costumes das donzelas e cavalheiros que viam no casamento por interesse uma forma de assegurar a sua sobrevivência. Através de um discurso marcadamente irónico com forte pendor crítico, a peça exibi magistralmente algumas virtudes e defeitos das suas personagens, expondo a ridículo o seu comportamento imoral, com destaque para situações em que o ser e o parecer servem de pretexto para desencadear o cómico e o riso no espectador.
É neste ambiente de farsa, repleto de jogos de engano, disfarce e mal-entendidos, que esta comédia adaptada a partir do texto original do autor sobe ao palco sob a responsabilidade da Nova Comédia Bracarense, procurando uma vez mais, no seu repertório já tão vasto, ir ao encontro do teatro sob a influência da Commedia dell’arte, não só para homenagear um dos vultos maiores da dramaturgia portuguesa, mas também recuperar a melhor tradição do Teatro barroco.
Encenador: José Manuel Barros


D. Gilvaz………Agostinho Couto
D.Fuas…………António Pimentel
D. Tibúrcio…..Diamantino Esperança
D. Lancerote………Vasco Oliveira 
Sevadilha….........Helena Machado
Semicúpio……………Joshua Swift
D. Clóris…………………Helena Guimarães
D. Nise….Rita Pereira/ Sofia Tenreiro

Luz e Som…………Francisca Barbosa
Direção artística……………Carlos Barbosa
Encenação………José Manuel Barros
Figurinos……………Goreti Abreu
Produção……………NCB 2017