A “Monographia da Freguezia Rural de Palmeira”, de Agostinho
Correia Pereira, é um documento historiográfico de grande interesse, por
debruçar-se sobre os diversos pormenores da vida agrícola, comercial, social,
cultural e da realidade geográfica de Palmeira nos últimos suspiros da Monarquia
em Portugal.
Inspirado
nesta obra, “Palmeira, 1909” é um texto que relata o desaparecimento de Rui, um
jovem de Palmeira com uma visão progressista, envolvido na luta pela
implantação Republicana. A sua mãe, Teresa, está desesperada por encontrá-lo,
mas esbarra as suas intenções no casmurro Agostinho, pai de Rui. Este,
confiante de que as suas ideias de desenvolvimento se enquadram nos valores
monárquicos e que os problemas de Palmeira não se devem à situação política,
culpa desocupados como o seu filho, e outros a quem reconhece pouca ambição,
pelo atraso que se faz sentir na agricultura e na sociedade aldeã.
Sucede-se,
então, uma série de confrontos de ideias envolvendo uma moleira, amiga de longa
data da família, D. Carminho; o proprietário das terras que Agostinho gere como
caseiro, o Sr. Baptista; e, finalmente, com um insólito par de risíveis
maltrapilhos, Tides e Martim. Neste périplo reflecte-se a Palmeira da época, de
uns pontos de vista e de outros, bem como um esboço da realidade nacional que a
enquadra.
Tudo isto
será representado com a reconhecida (e recentemente premiada) qualidade e com o
empenho típico da Nova Comédia Bracarense, sob a encenação do actor e
dramaturgo José Barros e com direcção artística de Carlos Barbosa, ambos Palmeirenses
com muita experiência nas lides dramáticas e no associativismo teatral.
Com
momentos de imperdível comédia, tensão dramática, doçura e sentido de
responsabilidade maternal, bem como um inqualificável amor a Palmeira, não
poderá deixar de acompanhar os desígnios de Rui e, - porque não?, - desta terra
que o viu nascer…
Miguel Marado
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